Foto: Solaris |
Por Secretaria Executiva do Fórum Brasileiro de Economia Solidária
O segundo dia (02/08) da Oficina Nacional de Formação Política e Economia Solidária em Guararema, na Escola Nacional Florestan Fernandes, iniciou com um momento de mística, com gritos de ordem do MST e da Economia Solidária ao lado das bandeiras do MST e da Via Campesina.
O tema central foi Como fazer análise de conjuntura, facilitado pelo membro da Secretaria Geral do MST, Daniel Pereira.
Daniel trouxe ferramentas e elementos para ajudar a trabalhar a análise de conjuntura com as bases, partindo de uma visão marxista.
"Na Grécia o destino da pessoa estava marcado, não tinha como mudar, escrito pelos deuses. Hoje também há pessoas que acham que as coisas são imutáveis, assim foi, assim será. Já Marx colocava algo diferente, a possibilidade de mudarmos a realidade, e para mudá-la temos que conhecê-la", iniciou Daniel.
A análise de conjuntura busca organizar o contexto, montar um grande quebra-cabeça destas peças, dar uma organicidade neste conjunto e mostrar suas relações. Por exemplo, cada jornal de circulação apresenta as notícias de uma forma, faz seus destaques e recortes, tem suas colunas, isso com um motivo, uma intencionalidade.
A partir do momento em que se define a identidade e aonde se quer chegar, define-se o caminho, partindo de uma análise de conjuntura para desenhar estes caminhos e estratégias.
Os elementos apresentados por Daniel para fazer a análise de conjuntura foram os seguintes:
Acontecimentos: diferenciando o que são fatos e ocorrências, do que são acontecimentos de maior importância, além de colocá-los em ordem de importância e hierarquia. Os acontecimentos são analisados a partir da posição e da classe, ou seja, da subjetividade do sujeito que faz a análise;
Cenários: o espaço aonde ocorrem os acontecimentos, cenário tanto como local físico, quanto como clima social;
Atores: papéis que são desempenhados no contexto, de pessoas físicas e/ou jurídicas, de classe e de grupos sociais que são ativos no processo;
A ausência e omissão de atores também muda o cenário, mudando correlação de forças.
Relação de forças: seja de confronto, coexistência, cooperação que estarão sempre revelando uma relação de domínio, de igualdade ou subordinação, não sendo algo imutável, sofrendo mudanças constantemente;
Articulação entre "estrutura" e "conjuntura": foi trazida a partir de uma análise marxista da sociedade, da estrutura econômica e da superestrutura política.
Corte conjuntural: na análise de conjuntura tem que ser percebido o tempo passado e futuro, ou seja, para refletir sobre certo contexto há necessidade de elementos temporais mínimos e perceber a relação entre as coisas, o movimento e o ritmo dos acontecimentos.
O MST, por exemplo, antes apenas ocupava terras improdutivas, e a partir da análise de conjuntura, passaram a ter um confronto mais forte, mostrado pelas mulheres. Mesmo sabendo que a correlação de forças é desfavorável passaram a ocupar grandes produções, enquanto forma de luta e enfrentamento em uma conjuntura mais difícil.
Nos debates, foram trazidos exemplos de experiência de conjuntura na economia solidária, por exemplo com o pl 865 em que o governo construiu um contexto e depois o movimento somou forças para buscar reverter o quadro, somando-se ao Grito da Terra e realizando as audiências públicas e mobilizações nacionais.
Além disso, foi visto a importância da análise de conjuntura para os EES, que na maior parte do tempo ficam limitados as questões econômicas e de sobrevivência, sem uma iserção política mais clara e forte. As proposições levantadas foram de que os empreendimentos precisam se empoderar desta luta, fortalecer o projeto de sociedade que queremos com a economia solidária. Isso se relaciona a forma como até então a economia solidária está organizada, qual o peso dos atores e contra quem se faz a sua luta e quem são os aliados.
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